Formado há milhões de anos por forças internas do planeta, o Grande Vale do Rift é uma das paisagens mais marcantes da África. Grande Vale do Rift no Quênia, África. Créditos: depositphotos.com / mkopka
Porto Velho, RO - Formado há milhões de anos por forças internas do planeta, o Grande Vale do Rift é uma das paisagens mais marcantes da África, reunindo cadeias de montanhas, vulcões ativos, lagos ricos em biodiversidade e comunidades humanas que dependem desses ambientes para agricultura, pecuária, pesca e turismo, em uma convivência constante entre natureza dinâmica e ocupação humana.
O que é o Grande Vale do Rift e como ele se formou
O Grande Vale do Rift é um vasto sistema de fraturas na crosta terrestre criado pela separação lenta de placas tectônicas, funcionando como uma “cicatriz” onde o continente africano está sendo puxado em direções opostas.
Essa abertura gradual origina vales alongados, vulcões, fontes termais e zonas de intensa atividade sísmica, podendo levar, em futuro distante, à invasão do oceano e à formação de um novo braço de mar.
Ao longo de cerca de 6.400 quilômetros, o Rift atravessa países como Etiópia, Quênia, Tanzânia, Uganda, Moçambique e Djibuti.
Em diversos trechos, grandes lagos, como Turkana, Malawi e Nakuru, ocupam depressões geradas pelo afastamento das placas, criando um mosaico de planaltos, bacias lacustres e vulcões pouco comum em outras regiões do planeta.
Por que esse vale é importante para a história humana
O Sistema do Rift da África Oriental é uma região-chave para o estudo da evolução humana, abrigando sítios arqueológicos e paleontológicos com fósseis de antigos hominídeos e ferramentas de pedra.
A diversidade de ambientes, de áreas secas a zonas férteis próximas a lagos, teria favorecido a adaptação, a sobrevivência e a dispersão dos primeiros ancestrais humanos.
Atualmente, margens e planaltos do Rift concentram grande diversidade de povos, línguas e modos de vida, como comunidades pastoris, agricultores, pescadores e populações urbanas.
Em muitos casos, o conhecimento tradicional orienta o manejo de solo, água e fauna, contribuindo para a preservação de recursos em um cenário de clima variável e pressões socioeconômicas crescentes.
Como o Grande Vale do Rift abriga rica biodiversidade
O Grande Vale do Rift é um mosaico de ecossistemas, com savanas, florestas de montanha, áreas alagadas, lagos alcalinos e planícies arbustivas em faixas próximas.
Essa variedade sustenta elefantes, girafas, antílopes, leões, répteis, anfíbios, insetos e numerosas espécies de aves, incluindo flamingos e migratórias que usam os lagos como pontos de descanso.
Em vários trechos, parques nacionais e reservas foram criados para proteger essa biodiversidade e regular o uso do território. Entre as iniciativas presentes na região, destacam-se:
- Restauro de populações de herbívoros e de vegetação nativa em áreas degradadas.
- Controle da caça ilegal e monitoramento de espécies ameaçadas.
- Projetos de pesquisa sobre impacto de agricultura, pecuária e expansão urbana.
- Promoção de turismo ecológico integrado a comunidades locais.
Quais desafios o Grande Vale do Rift enfrenta no futuro
O futuro do Grande Vale do Rift depende das escolhas de países e comunidades que o ocupam, diante de problemas como desertificação, pressão sobre recursos hídricos e segurança alimentar.
Desmatamento, manejo inadequado do solo, erosão e pesca excessiva reduzem a produtividade agrícola e os estoques de peixes, afetando diretamente economias e dietas locais.
A urbanização crescente em cidades como Nairóbi e Adis Abeba adiciona complexidade ao planejar estradas, energia e outras infraestruturas sem comprometer áreas sensíveis.
Em paralelo, ganham espaço práticas agrícolas mais sustentáveis, como cultivo em terraços e manutenção de árvores em encostas, que ajudam a conter a erosão e melhorar a fertilidade do solo.
Como ciência, comunidades locais e conservação se conectam no Rift
Projetos de conservação no Sistema do Rift frequentemente envolvem parcerias entre cientistas, organizações locais, governos e moradores, integrando vulcanologia, climatologia, biologia e antropologia com saberes tradicionais.
Iniciativas de educação em línguas locais, gestão de recursos naturais e turismo comunitário reforçam o protagonismo das populações que vivem nos vales e planaltos.
Essa combinação de ciência e conhecimento local tem gerado recuperação de parques degradados, fortalecimento de atividades rurais e incentivo a práticas regenerativas, enquanto o Rift segue como laboratório natural e humano para estudar mudanças climáticas e formas de coexistência mais equilibradas entre pessoas e ambiente em um cenário de transformação contínua.
Fonte: O Antagonista



0 Comentários